Falar de África é, muitas vezes, falar de miséria, fome, conflitos, doenças, desastres humanitários e corrupção num continente traçado com fronteiras a esquadro pelas antigas potências coloniais, indiferentes às múltiplas realidades tribais e étnicas que, só por si, já eram indutoras de potenciais conflitos.A esperança trazida pela independência veio, em muitos casos, revelar-se um fracasso, com os colonizadores a serem substituídos por novos senhores com desmesurada e despudorada vontade em explorar os seus compatriotas.
Pegar nos jornais e pesquisar notícias sobre África é um exercício que nos deixa desolados: o Darfur e a Somália são hoje as maiores catásfrofes humanitárias a nível mundial, o Zimbabwe do ditador Robert Mugabe afunda-se com a complacência do mundo inteiro, e por aí afora.
Mas se estes casos representam o pior da África de hoje, outros exemplos fazem renascer a esperança de que o futuro é possível no continente negro, como o Botswana que, de um estado de pobreza extrema passou a um país em desenvolvimento graças à democracia implantada e a uma distribuição mais equitativa das receitas de exploração da sua principal riqueza (diamantes), com baixos nível de corrupção e de violência.
Esta realidade teve um actor principal: o ex-presidente Festus Mogae, a quem foi atribuído recentemente o prémio "Mo Ibrahim Foundation" de 2008 pelo seu papel na liderança e no desenvolvimento do Botswana.
Do júri do prémio, e para além do magnata das telecomunicações de origem sudanesa Mo Ibrahim, fizeram também parte o ex-secretário das Nações Unidas Kofi Annan, a ex-presidente irlandesa Mary Robinson e os prémios Nobel Mohamed El Baradei e Martti Ahtisaari, o que atesta da importância deste galardão.
Claro que nem tudo são rosas no Botswana: entre outras, como a forte dependência do negócio dos diamantes e das transacções com a África do Sul, o país continua com uma taxa muito elevada de incidência do vírus HIV/SIDA, mas as condições estão criadas para que este flajelo tenha proporções menos drásticas.
Entrevistado acerca da concessão do prémio, Mo Ibrahim referiu a propósito que Mogae ou Joaquim Chissano, presidente de Moçambique, galardoado no ano anterior, devem ser a notícia em África e não a inépcia e a cleptocracia de Mugabe, insistindo que os líderes africanos não podem ficar quietos e simplesmente culpando o colonialismo pelas falhas no continente, devendo arregaçar as mangas para expurgar de vez a corrupção.
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